A palavra repolitica está associada á idéia de se refazer, ou seja, começar tudo de uma outra forma. No caso da politica, o autor da idéia, Francisco Withaker, propõe que os eleitores fiscalizem a Câmara.

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Francisco José Lins Peixoto Contatos: (82)3356-1509 Sugestões: franjolipeixoto@hotmail.com Organizei e toquei violão em um grupo de crianças da igreja católica, juntamente com minha esposa, Clara Maria Dick Peixoto. Ela cantou no grupo e era membro de um grupo de liturgia da Arquidiocese de Maceió. Leio, escrevo e falo inglês, e alemão.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS 02 - Marcondes dos Santos Silva



 ÍNDICE GERAL

EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS - 8 páginas
APÊNDICE 1: Rosivaldo Gomes de Santana - 6 páginas
APÊNDICE 2: Marcondes dos Santos Silva - 5 páginas
APÊNDICE 3: Gerson Clarindo Freire - 3 páginas
APÊNDICE 4: Josefa Raimundo de A. Silva - 7 páginas  
APÊNDICE 5: Maria Helena Silva dos Santos - 15 páginas
APÊNDICE 6: Adeilda Silva Nogueira - 8 páginas
APÊNDICE 7: José Porfírio dos Santos - 4 páginas
APÊNDICE 8: Sebastião Pulquério de Lima - 3 páginas
APÊNDICE 9: Cícero Afreu dos Santos - 6 páginas
APÊNDICE 10: José Sampaio - 2 páginas




EXPOSIÇÃO DE MOTIVOS 02 - Marcondes dos Santos Silva



A2. APÊNDICE No 2

            Neste apêndice, vamos também relatar algumas ocorrências que se sucederam no decurso desse processo de reintegração de posse, que mostram as dificuldades decorrentes da falta de aplicação enérgica e urgente da lei. Conforme consta no Processo 1883/01, iniciado em 12/02/01, no 6o Juizado, o inquilino Marcondes dos Santos Silva nunca pagou o aluguel contratado. Existe um manuscrito da minha irmã, que tem anotações até princípios de 1992, em que ficam patentes as agressões sofridas por ela ao tentar receber os aluguéis, tendo recebido o mês de novembro de 1991 em 03/01/02. Em fevereiro de 1997, conseguimos assinar o contrato citado no Processo 1883/01. Esse inquilino teve as mesmas oportunidades de quitar os aluguéis que os outros inquilinos tiveram, pois foram expedidas 3 cartas de cobrança, em 07/03/97, em 20/11/97 e em 13/02/98, respectivamente. Além disso, o casal João e Genoveva, residentes próximos ao local, ou seja, na rua Belém, no 68, ficou autorizado a receber os aluguéis, como de fato o fizeram, pois muitos inquilinos pagaram ali os seus aluguéis. Instaurado o Processo 1883/01, esse inquilino foi condenado a pagar a quantia de R$500,00, correspondente a 50 meses de atraso nos pagamentos do aluguel de R$10,00 por mês. Isso foi no dia 08/03/01, devido à sua ausência na audiência de conciliação. O Mandado de Intimação foi recebido pelo seu irmão, Cícero José dos Santos Silva, conhecido pela alcunha de Pequeno, que foi o encarregado de ficar ocupando o imóvel. Em 24/05/01, a MM. Juíza, Denise Calheiros, expediu a determinação de que o imóvel fosse desocupado até o dia 24/06/01, e após essa data, com força policial. Os ocupantes do imóvel nunca tomaram ciência deste ato, pois dependia da entrega pelo Oficial de Justiça, que é o calcanhar de Aquiles de todos os procedimentos finais desse Juizado Especial, Civil e Criminal. Tanto que no dia 11/05/01, uma sexta-feira, uma funcionária do Juizado reafirmou o fato de que o Oficial Rosival tinha uma outra função no Fórum, dispondo de pouco tempo para o juizado, enquanto que o 10o Juizado, da Ponta Verde, tinha um exclusivo.
            No dia 03/06/01, um domingo, percebi que um grampo “C”, que é uma ferramenta que eu utilizara para sustentar as duas faces da viga de coroamento do muro, no valor aproximado de R$40,00, havia desaparecido. No dia 08/06/01, um amigo nosso não encontrou mais a roupa dele que havia deixado dependurada no nosso quintal, durante a noite. No dia 11/06/01, reforçamos a cerca que separava o nosso quintal da casa em questão, e o irmão mais novo do Pequeno, Alano, conhecido pela alcunha de Chapolim, o mais belicoso dos três, veio fiscalizar o serviço munido de um facão. Como o cidadão “FOCA” (Ver APÊNDICE 1) alegara que tinha feito o tablado divisório para se defender dos maconheiros, tiramos também nesse dia, uma foto da abertura que intercomunicava o espaço cercado pelo “FOCA” com o quintal desses 3 irmãos. Para ficar mais compreensível o texto, devemos informar que o inquilino Marcondes, conhecido pela alcunha de Conde, o Pequeno e o Chapolim, são usuários de drogas, e estavam sempre envolvidos com brigas entre seus inúmeros companheiros que freqüentavam o local. Ainda nesse dia, à noite, tivemos uma importante reunião na confluência das ruas Triunfo e Arame, com a presença dos comandantes do 1o e 5o batalhões da Polícia Militar e do vereador Thomas Beltrão. Nessa ocasião, um dos moradores, conhecido por Gil, disse conhecer todo o esquema de drogas do local. A partir do dia 16/06/01, o portão que dava acesso pela rua do Arame ao imóvel em questão permaneceu sem o cadeado, dando passagem a estranhos. Deve-se acrescentar que os ocupantes do citado imóvel, como muitos dos seus visitantes, preferiam utilizar os caminhos do mato, acessando o local pelos fundos do terreno, ficando nossa casa também exposta a todos esses tipos de susceptibilidades. No dia 24/06/01, dia de São João, levantei-me às 4:30h, devido aos latidos do nosso cão. Mas como vi um gato branco dentro do cercado que delimitava o imóvel em questão, voltei para casa. Logo em seguida, às 5:00h, os cachorros latiram novamente, e dessa vez de forma insistente, mas acreditei ser devido à presença do gato e não me levantei. Quando finalmente fui ao quintal, às 5:30h, pois íamos à missa nos estúdios do CANAL 5 de TV, vi que faltavam 3 dos grampos “C”que eu havia deixado, prendendo uma tábua sobre 2 cavaletes, junto à minha casa. Mais tarde, depois do almoço, minha esposa viu o Pequeno entrar e sair do imóvel pelo portão da frente. Ela combinou com a vizinha que mora em frente, e esta concordou em jogar uma pedra no nosso portão se ele saísse de casa com algum embrulho. Assim foi feito, e ele saiu com uma calça envolvendo alguma coisa. O esposo dessa vizinha e outras pessoas informaram que ele havia se dirigido a uma determinada serralharia. Fomos até lá e o proprietário disse que, realmente, ele oferecera 3 peças de ferro para ser vendidas. A descrição dele, inclusive as cores, coincidiam com as de nossas ferramentas. Saí, a pé, para ver se encontraria o Pequeno pelas ruas do Jacintinho, mas não obtive sucesso. Na volta, minha esposa disse que já havia ligado para a polícia porque já tinham visto o Pequeno voltar para casa com o mesmo embrulho debaixo do braço. Pouco depois, minha esposa me acordou para dizer que o Pequeno já estava algemado numa viatura policial, à frente da nossa casa. Isso muito me constrangeu, mas vi que não tinha saída e tinha que ir até o fim. Fomos com os policiais até o interior do imóvel habitado ora pelo Pequeno. Durante a vistoria, eu comecei a me sentir inseguro e angustiado à medida que o Pequeno se declarava inocente e pessoa de bem, e os soldados nada encontravam. De repente, quando parecia tudo terminado, ouvi um tilintar metálico, e uma grande emoção nos envolveu quando um dos policiais levantou uma sacola contendo os três grampos “C”, do fundo de um buraco, atrás da cama do Pequeno. Ele então se declarou culpado e pediu por misericórdia. O policial próximo a ele o segurou pela gola da camisa como se tivesse irado, e eu logo pedi para não tocar nele, pois iríamos apresentar queixa na forma da lei. Os policiais disseram que se era assim, eu teria que ir junto. Fui me vestir e tomei lugar na viatura que estava estacionada na esquina da rua dos Caetés, bem em frente do açougue dos evangélicos sr. Manoel e D. Tereza Maria R. dos Santos, rodeada por uma multidão de curiosos. Antes de chegar no CIAPC do Farol, demos um longo passeio pelo bairro que acredito ter sido o de Ponta da Terra, com o Pequeno algemado no cubículo logo atrás de mim, que não parava de me pedir e implorar para que eu o libertasse. Eu me sentia ridículo e a tristeza tomava conta de mim, pois sabia que era também vítima em toda aquela trama. Chegando ao CIAPC, o Pequeno e eu saltamos da viatura e fomos até à sala onde se registram as queixas, sempre acompanhados dos 2 policiais que traziam os 3 grampos “C” nas mãos. Uma vez um dos policiais mostrou um dos grampos para o Pequeno dizendo que aquilo apertava bem os dedos. O Pequeno permaneceu indiferente a tudo, parecendo já acostumado a coisas piores. Começamos a tomar conhecimento da realidade quando ouvimos que para o registro da ocorrência seriam necessárias testemunhas e muito tempo. Por exemplo, poderia levar 4h, o que significaria a minha “detenção” até altas horas da noite, com a minha esposa e minha tia naquele ambiente conturbado da rua do Arame, sem a minha presença. Sugeriram que eu poderia ir e o Pequeno ficaria para passar a noite. Eu fiz ver a todos que não aceitaria a permanência do Pequeno ali, sem o registro da ocorrência, e em último caso, ele voltaria comigo. Veio a informação de que o delegado estava ausente, numa missão importante, e que não se podia fazer o registro da ocorrência sem a presença dele. Foi uma surpresa para mim quando vi que havia policiais também do sexo feminino e fiquei um pouco aliviado. Mas isso não durou muito tempo porque elas me pareceram até mais rigorosas e ameaçadoras. Uma delas disse que o delegado chegaria muito aborrecido se tivesse que deixar sua missão importante para vir fazer o registro da queixa. Outros policiais comentavam que tudo aquilo por causa daqueles 3 grampos “C”, que até já tinham sido recuperados. Os policiais que seguravam os grampos passaram a ficar cada vez mais nervosos, manifestando descontentamento por estar ali, ao que me pareceu, além de sua hora regulamentar, ao invés de estar com suas famílias festejando a noite de S. João. Eu ia ficando cada vez mais preocupado e apreensivo, principalmente porque era patente que eu era o culpado de tudo. Antes desses acontecimentos, o Pequeno já tinha sido entrevistado pelo responsável por esta tarefa. Ele primeiro pediu para que eu relatasse o ocorrido. Logo após, ele se dirigiu ao Pequeno, que já estava sentado logo atrás de mim, que confirmou tudo sempre dizendo: “Foi como o sr. Francisco falou”. Ao que o policial acrescentou: “Você é sem vergonha mesmo!” O Pequeno permaneceu como sempre: impassível. Um policial se encarregou de verificar os antecedentes criminais do Pequeno, chegando com o resultado de que a ficha dele era limpa. Sendo assim, se eu insistisse no registro da ocorrência, ele iria provavelmente ficar no presídio, saindo de lá em condições piores devido ao convívio com outros criminosos. A sugestão seguinte foi de que nós seríamos liberados se eu assinasse um termo inocentando o Pequeno. Como eu estava visivelmente embaraçado e nervoso, não pude concordar prontamente. A sala estava repleta de policiais. Foi então que alguém sugeriu uma reunião para resolver o que fazer e pediram para que nos retirássemos da sala por uns momentos. Abriram uma porta e conduziram-nos para uma sala contígua, fechando a porta à nossa retaguarda. A sala era espaçosa, mas quase sem mobiliário e só me lembro das cadeiras que utilizamos para nos sentar. O Pequeno ficou próximo a uma das paredes e eu próximo à outra parede, ambos em silêncio. Eu, de natureza avessa a ambientes fechados, comecei a sentir um mal estar e procurei me controlar com medo de enlouquecer. Num arroubo de angústia, convidei o Pequeno para rezarmos juntos e ele prontamente aceitou. Ficamos de pé, no centro da sala, um de frente para o outro, e eu comecei a balbuciar uma Ave Maria. Foi aí que o Pequeno me interrompeu para dizer que ele era evangélico e não sabia rezar a Ave Maria. Eu admirei a honestidade dele e fiquei tocado pela ausência de qualquer sentimento de revolta ou ódio naquela criatura, e achei melhor desistir da oração. Voltamos a nos sentar. Em seguida a porta se abriu e nos convidaram a voltar para a sala. Eu, com sofreguidão, apelei para a solução de inocentar o Pequeno, pois via que era a única maneira de sair logo dali. Talvez porque foram tantos os argumentos que eu coloquei a favor da retirada da queixa, sem conseguir disfarçar a minha ansiedade, que desconfiaram da possibilidade de que eu estivesse com algum ardil. Para meu desespero, veio a policial e disse que agora não tinha mais jeito de voltar atrás, que todos tinham que esperar o delegado, que ela já o tinha contactado. Alguns dos policiais não concordaram e disseram que eu já tinha aceitado assinar o termo de responsabilidade. A policial acrescentou: “Ele diz isso aqui e depois vai nos denunciar na imprensa”. Eu retruquei que não faria isso. Então nos levaram para outra sala, melhor aparelhada, onde ficavam essas policiais, sempre com os policiais que estavam com os grampos “C” nos acompanhando. O próximo lance foi o telefone celular que eu tinha no bolso tocar. Eu, sem costume de portar esse tipo de aparelho, não me dei conta do ruído, mas a policial que estava sentada á mesa na minha frente, me advertiu: “É o seu celular que está tocando!” Confuso, consegui apertar o botão conveniente e ouvir a voz da minha esposa. Comovido, tratei de falar bem claramente que já estava tudo resolvido, que eu ia retirar a queixa e chegar em casa logo a seguir, com a intenção de sugestionar a todos os presentes, e por fim, a mim mesmo de que aquilo era mesmo verdade. Ainda tive forças e ousadia suficientes para propor uma redação em que o Pequeno se comprometeria a se retirar do imóvel, no dia seguinte. A policial fez ver a ele que era um compromisso em troca da retirada da queixa e ele prometeu cumprir tudo, deixando-me em paz. Após ouvir o rádio do Camburão citando o meu nome várias vezes, fomos soltos na rua do Arame e tive a felicidade de encontrar meus familiares.
            No item A2.1, deste APÊNDICE, mostramos o texto que escrevemos logo após esses acontecimentos, como forma de contribuir para a reflexão dos problemas que assolam a nossa sociedade. Relatamos um pouco mais agora porque sabemos que certas coisas não são convenientes num dado momento, mas o tempo nos mostra quando as pessoas já estão amadurecidas para essas coisas, de modo que o relato não tenha o efeito de uma denúncia odiosa, mas de um remédio necessário aos males que nos afligem. Isso faz parte das regras sociais, pois há até os prazos em que os crimes prescrevem, aceitos pelo senso comum.
            No dia seguinte, o Pequeno só veio retirar as roupas às 15:00h, e disse que uma outra pessoa viria buscar a cama dele. A madrugada do dia seguinte, 26/06/01, foi de pleno terror. Às 1:30h, os cachorros começaram a latir. Encontrei o portão do Marcondes atado com um cordel, enquanto eu o tinha deixado aberto, antes de me deitar. Retirei o cordel e escancarei-o como o havia deixado na noite anterior. Até às 4:30h, ouviam-se apitos, muitos cachorros latindo nas vizinhanças, papocos de todos os tipos etc, culminando com um barulho ensurdecedor, vindo do lado da rua, entre a parede de nossa casa e o muro da rua. Naquela aflição, as fantasias pululavam, eu me imaginava perdido, pensando no poder das grandes organizações criminosas internacionais, sem poder dormir e sem proteção da sociedade. Vendo que não tinha alternativa, busquei uma faca na cozinha e abri a janela para ver quantos estavam prestes a invadir a minha residência. Foi uma surpresa, pois tinha sido apenas a nossa escada metálica que tinha caído contra o muro, provavelmente devido ao vento forte, pois logo em seguida começou a chover e continuou por todo o dia. Foi um momento de grande descontração e eu agradeci a Deus por tudo. A próxima noite foi também de grande desassossego, iniciando ás 23:30h. No dia seguinte, fui surpreendido pelo irmão do Pequeno, o Chapolim, embaixo da escada onde eu estava, encostada no muro da rua. Ele viera tomar satisfações, me perguntando se o irmão dele tinha pegado minhas coisas. Eu lhe respondi, secamente, que ele não precisava de mim para ter essas informações. Ele utilizou o subterfúgio de que minha esposa o teria mandado chamar para falar com ele, e, apesar de eu ter dito que não queria conversa com ele, e que ele, se quisesse, fosse ao Juizado. Ele ainda disse que viria para apanhar as telhas de amianto que estavam no imóvel em questão. Ainda nesta manhã, ele veio com 2 capangas e um martelo na mão, que usou para quebrar a cerca, levando as telhas pelo mato, em direção à rua das Jardineiras. De cima do muro, fiz o meu protesto dizendo a eles que não tinham o direito de invadir a minha propriedade, pois o caso estava na Justiça. Ele, solenemente, deu importância á minha última frase e desdenhou: “Justiça. Ela só existe para os pequenos!”
            Senti na sua voz e na sua convicção, uma similitude com o que Pilatos disse ao próprio Cristo: “E o que é a verdade?” Cristo silenciou. Eu também silenciei. Minha esposa já tinha telefonado para a delegada Aureni, que apareceu com vários policiais fortemente armados, mas o Alano (Chapolim) já havia desaparecido. Fui no Juizado, mas este estava em recesso. Resolvi pedir a um conhecido para ficar vigiando os meus grampos “C”, na calçada da rua, durante a noite. Na madrugada de 29/06/01, às 2:30h, eu estava conversando com este senhor na calçada da rua, quando o Pequeno desfilou calmamente pela rua, entrando por um dos becos que dá acesso aos fundos do nosso terreno. Às 9:00h, nesse mesmo dia, o Pequeno apareceu, de cuecas, no local onde dormia, sendo este local mais visível devido aos plásticos que havíamos retirado no dia anterior. Ele se vestiu, reuniu alguns pares de tênis novos num balde, e saiu pelo nosso portão. Antes de ir, demos um sanduíche com café e a recomendação de que seria mais fácil para ele se recuperar se ele fosse para outra cidade, afastando-se de vez da dominação exercida sobre ele pelas más companhias. Resolvemos convidar algumas pessoas da vizinhança e proceder à demolição do imóvel em questão. Uma das pessoas, entre as que estavam encarregadas da demolição, teve a perspicácia de observar inúmeros pequenos orifícios nas paredes de alvenaria do quarto do Pequeno, me mostrando que havia restos de maconha no interior deles, que, segundo ele, era essa droga retirada com auxílio de estiletes, na hora oportuna. Dessa forma, ele se prevenia no caso de alguma investigação súbita em sua residência. Foram encontrados também invólucros de drogas que são vendidas, com restrições, nas farmácias.







A2.1. MINHA PRIMEIRA VIAGEM NUM CAMBURÃO

            Tudo começou na madrugada do dia 24/06/2001. Acordei com o latido dos cachorros. Consultei o relógio que marcava 4:30h. Fui no quintal e me aproximei do cercado onde fica o barraco habitado pelo cidadão Cícero. Achei que tinha visto um gato branco do lado de dentro do cercado que envolve o barraco e voltei logo para casa, pois havia chovido. O sereno estava forte e o frio pedia uma volta imediata à cama. Os cachorros latiram novamente quando o relógio marcava 5:00h. Desta vez não fui mais olhar o que era, já que o gato certamente teria provocado o alvoroço dos cachorros. O despertador também tocou às 5h, porque Clara sempre prepara as coisas cedo para irmos à missa no CANAL 5, que estava prevista para começar às 6:20h. Era domingo e dia de São João. Quando Clara saiu para o quintal, por volta das 5:30h, logo voltou me perguntando: “Você não tinha deixado 4 pegadores prendendo as tábuas?”
            Eu tinha certeza e sabia que os tinha visto às 4:30h. Fui até o local onde estava o portão que tínhamos começado a confeccionar e constatei que a tábua ainda estava seca dentro do círculo correspondente ao contato da sapata do pegador com a tábua de Jatobá. A chuva ia caindo e começando a molhar esta interface de meia hora atrás, entre o aço e a face polida do Jatobá. O inesperado acontecera! Tomados de espanto, investigamos uma possível escalada do muro, mas não havia o menor sinal, nem pelo lado da rua nem pelo lado de dentro.
            Embora preocupados com essa estranha invasão de nossa área, chegamos no CANAL 5 ainda dentro do horário. Como houve um imprevisto com a parte técnica da Emissora, o início da missa atrasou, e chegamos em casa mais tarde do que de costume.
            Depois do almoço, fui descansar. Acordei com chamado da Clara para dizer que o cidadão Cícero havia saído com um embrulho rua afora. Ao irmos atrás dele, encontramos um grupo de conhecidos que vinha na direção contrária. Estes nos disseram que o embrulho era uma calça preta, o que nos fez voltar. Mas quando retornamos até à frente de nossa residência, um outro conhecido do grupo disse que ele tinha um embrulho dentro da calça preta e que tinha se dirigido ao serralheiro para oferecer. Clara me instigou imediatamente e fomos até à serralharia, que fica a cerca de 100m de nossa casa.. Quando interrogamos o proprietário se um rapaz tinha oferecido algo para vender, ele respondeu que tinha sido “algo como um parafuso que aperta madeira”, fazendo um gesto com os dedos. Eu acrescentei que eram pegadores, que alguns chamam de “sargento”, outros de grampo “C”. Ele confirmou. Ele também confirmou que eram dois verdes e um vermelho, que eu corrigi para marrom, e ele aceitou. Clara voltou para casa e eu andei até a rua Cel. Paranhos, passando pela rua Belém e Jardineira, mas não encontrei o cidadão Cícero. Fui à residência do prof. Valdir para apanhar as folhas que ele imprimiu para mim e retornei à casa. Assim que cheguei Clara me disse que havia telefonado para a polícia porque o cidadão havia também retornado com a calça preta e depois saído sem ela, com a possibilidade de ter deixado o embrulho no barraco onde ele se aloja, e que os policiais já tinham ido no encalço dele. Quando já estava novamente descansando, fui chamado para ver a viatura a viatura da polícia que acabara de chegar. O policial abriu a porta traseira do camburão e apareceu o Cícero algemado. Os policiais foram até o barraco e encontraram os 3 pegadores. O Cícero logo passou a dizer que ía deixar o nosso terreno. Estava em casa quando fui chamado mais uma vez, agora para entrar na viatura. Os policiais disseram que tinha que ir. Era uma tarde de domingo e muitas pessoas se postavam nas calçadas para ver o espetáculo. Chegamos no CIAPC, em frente ao Hospital dos Usineiros. Tivemos uma entrevista com a presença de 3 policiais do plantão, além dos outros 3 que nos conduziram na viatura. Um deles me explicou que o Cícero não tinha entradas na polícia e que uma provável prisão poderia eliminar uma possibilidade de recuperação do indivíduo. Eu queria apenas que o fato fosse registrado, de forma a que todo esse trabalho de descoberta do furto não ficasse em vão. Isso tudo para salvaguardar a nossa segurança, pois o Cícero se aloja num barraco sem banheiro, sem luz elétrica e sem água, dentro do terreno comum à nossa casa, e após essa comprovação fica insustentável a sua permanência. A policial disse que não poderia registrar flagrante sem duas testemunhas, mas um outro dizia que ia tomar depoimento, mesmo que durasse 4 horas. Este, que parecia ser o chefe, mandou que nos levasse para a sala contígua. Quando saímos, eu me vi naquela sala vizinha, a sós, com o Cícero, e a porta se fechou atrás de nós. Meu primeiro impulso seria de abrir uma daquelas portas e sair, mas tive que me conter e fiquei em pé no meio da sala. O Cícero ficou sentado em uma das cadeiras que faziam ala ao longo de uma das paredes. Subitamente, ele se levantou e chegou bem perto de mim, olhando-me nos olhos e repetindo: “Não deixe eu apanhar”. Eu fiz sinal para ele parar com aquilo. Nós estávamos em posições diferentes, mas no mesmo barco. Num arroubo de angústia, convidei o Pequeno para rezarmos juntos e ele prontamente aceitou. Ficamos de pé, no centro da sala, um de frente para o outro, e eu comecei a balbuciar uma Ave Maria. Foi aí que o Pequeno me interrompeu para dizer que ele era evangélico e não sabia rezar a Ave Maria. Eu admirei a honestidade dele e fiquei tocado pela ausência de qualquer sentimento de revolta ou ódio naquela criatura, e achei melhor desistir da oração. Voltamos a nos sentar. A porta da sala começou a se abrir e eu fui logo dizendo: “Eu estou de acordo em que não se faça o registro da ocorrência “. Os três policiais que nos conduziram se mostraram aliviados e começaram a nos conduzir para a saída do prédio, um deles carregando os 3 pegadores. Na saída, o policial da recepção nos chamou ao telefone. Tivemos que subir novamente e entramos numa outra sala, que parecia ser a de tomada de depoimentos. Lá estava sentada uma outra policial, além da que já tínhamos visto. O chefe dizia que a ocorrência ía ser feita e que o delegado já estava chegando. Os outros policiais, e nós, defendíamos o encerramento do caso. As duas policiais se mantiveram imparciais naquela hora. Foi quando a primeira delas disse que o caso seria encerrado se eu assinasse um termo de retirada de queixa. Como o Cícero se mostrou desejoso de deixar o nosso terreno a partir do momento em que os pegadores foram encontrados no barraco, e isso era o mais sensato, pois o seu modo de vida transgride os princípios básicos de uma boa convivência social. Eu incluí essa condição na redação do acordo em que eu retirava a queixa. Todos concordaram e dois dos policiais assinaram como testemunhas. Logo me levantei, e apressadamente ía saindo, assim como trataram de fazer os outros da viatura, quando esta última policial me chamou e sorrindo acrescentou: “Não vai levar os seus pegadores?”. Eu respondi: “A partir do momento em que me forem entregues”. Ela os apanhou de cima da mesa e os estendeu para que eu os pegasse. Solenemente eu simulei beijar um dos pegadores e acrescentei: “São de minha estimação”. De fato, os nossos pegadores foram pintados de forma personalizada, de acordo com os tamanhos. Assim os pretos são os de 12 polegadas, os verdes são os de 6 polegadas, etc.
            Tomamos a viatura com os mesmos passageiros da ida e saímos aliviados. O silêncio só era quebrado pelo som do rádio ou por iniciativa de algum dos policiais. Chegamos à rua Joana Rodrigues da Silva, onde fomos soltos.
            Nem todos os detalhes desse episódio foram narrados, primeiro porque a memória não permite, segundo porque se tornaria pouco objetiva a narração, mas podemos acrescentar uma análise focalizando alguns pontos.











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