A palavra repolitica está associada á idéia de se refazer, ou seja, começar tudo de uma outra forma. No caso da politica, o autor da idéia, Francisco Withaker, propõe que os eleitores fiscalizem a Câmara.

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Francisco José Lins Peixoto Contatos: (82)3356-1509 Sugestões: franjolipeixoto@hotmail.com Organizei e toquei violão em um grupo de crianças da igreja católica, juntamente com minha esposa, Clara Maria Dick Peixoto. Ela cantou no grupo e era membro de um grupo de liturgia da Arquidiocese de Maceió. Leio, escrevo e falo inglês, e alemão.

domingo, 11 de fevereiro de 2007

O CACHORRINHO ADESTRADO DO PT

Durante o encontro do PT, no dia 15/11/98, debateram-se algumas propostas para reorganização do Partido em Mendes. Foi assim que surgiu a notícia de que o Deputado André Ciciliano havia autorizado o aluguel de um imóvel para instalação da tão sonhada sede do Partido. Seguiu-se outra notícia de que uma verba de R$1.000,00 seria destinada, mensalmente, para estruturação do Partido, como um dos resultados positivos da conquista de um mandato na Câmara Estadual.
Foi aí que o companheiro Nelson questionou como seria administrada a sede. Como resposta, os mesmos companheiros que anunciaram as boas notícias, chegaram à conclusão de que seria um empregado regido pelas atuais leis trabalhistas, a exemplo do que ocorre no Sindicato dos Metalúrgicos de Barra do Piraí. Esses mesmos companheiros defenderam que seria de bom alvitre que fosse um do grupo, pois já conheceria os objetivos do PT e poderia desempenhar melhor a função.
A nossa proposta era diferente, pois defendemos que o futuro colaborador fosse escolhido por Concurso Público. O companheiro Alexandre se encarregou de defender a primeira proposta e sempre argumentava que a escolha de um dos nossos seria mais adequada pelo fato de já ter conhecimento do Partido.
Na minha réplica, eu procurava imaginar as tarefas de um funcionário da sede do PT, e não compreendia porque tantas vantagens advindas do Concurso Público seriam dispensadas em troca dos conhecimentos do Partido. Procurei então demonstrar que qualquer que fosse a pessoa aprovada no concurso, esta poderia ser instruída num prazo relativamente curto para exercer suas tarefas com eficiência, como um “Cachorrinho Adestrado”.
A réplica do companheiro Alexandre foi pautada pela intolerância e censura, pois isso iria certamente denegrir o Partido, chamar um futuro funcionário do PT de “Cachorrinho Adestrado”.
Ouvi, em silêncio, toda a vociferação do companheiro, achando, inclusive, que era incrível que eu tivesse cometido tamanha indiscrição. Porém me inscrevi para, pelo menos explicar a verdadeira intenção da metáfora. Durante a minha réplica, o companheiro não se manteve em silêncio, bastante irritado com a expressão “Cachorrinho Adestrado”. Expliquei que quaisquer que fossem as minhas palavras, a realidade brasileira não mudaria, podendo apenas, em última análise, ser eu o único prejudicado pela falta de habilidade política. Isso parece que agradou a todos. Porém, a próxima inscrição era do companheiro Gerson, que avaliou o assunto como sendo prematuro, retirando-o de pauta sem que ninguém reclamasse.
Nunca me preocupei em reconhecer erros e aprender com as críticas alheias, pois sempre ocorre isso com reuniões francas e democráticas, sobretudo quando se aproxima de um “Brainstorming” *.
Entretanto, refletindo e procurando entender a fúria do companheiro, a ponto de produzir um mal-estar nos presentes, achei que um cachorrinho adestrado foi uma analogia, encontrada por mim, sem avaliação dos desdobramentos que poderiam acarretar. Sendo que essa analogia resumia tudo que momentaneamente me ocorrera.


* Brainstorming - é uma técnica utilizada nas grandes empresas, que reúne especialistas de uma área para propor soluções para um determinado problema, de modo que as idéias circulem sem censura e com total liberdade de expressão. Isso tem demonstrado que soluções surpreendentes e grandes descobertas decorrem desse processo.
O cachorrinho cede às instruções do dono, desde que compatíveis, porque ele percebe (instintivamente) que o seu alimento depende daquele que o está instruindo (adestrando). Analogamente o empregado segue as instruções do patrão, desde que compatíveis, porque ele sabe que o seu salário (alimento) depende daquele que o está instruindo.
Uma coisa parece comum aos dois casos, pois tanto o cachorrinho, como o empregado, certamente não se comportariam daquela forma se não houvesse uma imposição muito bem fundamentada e irresistível, ou seja, ambos passam a fazer coisas que, se dependessem só deles e de seus modos naturais de ser, não seriam feitas. Se fazem essas coisas é porque foram induzidos e não resistiram, portanto foram adestrados.
Logo, se os leitores concordam, o raciocínio leva a crer que o resultado depende do amestrador ou instrutor. Se ele é bom, as coisas a serem feitas serão boas e o resultado também será bom para o empregado, aplicando-se a analogia.
Se uma empresa de ônibus pode instruir os seus motoristas a não parar fora do ponto, não produzir movimentos bruscos no veículo, ou a esperar que as pessoas idosas se acomodem antes de movimentar o veículo etc, admite-se que essa instrução é boa. A mesma empresa pode instruir os seus cobradores a não receber vales-transporte em troca de dinheiro, decorrendo daí que um cobrador “bem-instruído” responda aos argumentos quase convincentes de um determinado passageiro: “Mas não posso, porque é uma norma da empresa!”
As analogias, correspondências, metáforas, parábolas, são recursos utilizados para facilitar a descrição daquilo que se quer transmitir, sobretudo quando o interlocutor não se entrosa rapidamente no raciocínio desenvolvido.
Quando se diz que o número de alunos numa sala de aula é o mesmo número de carros num determinado local, não significa que os alunos sejam iguais aos carros, mas que há uma correspondência numérica.
Tomando-se essa parte por encerrada, pode-se passar a considerar o episódio na sua essência mais direta, que seria questionar se um cachorrinho adestrado seria mais, ou menos digno, do que um homem instruído.
De acordo com a fé Cristã, o homem possui alma, que o diferencia dos outros animais e das coisas. Do ponto de vista da ciência, o homem tem uma inteligência superior, mas incapaz de explicar muitas coisas passadas e de prever outras futuras. Ainda do ponto de vista religioso, podemos citar o grande santo Francisco de Assis, que chamava o sol e a lua de irmãos, assim como a todos os animais. Entre os pensadores, podemos citar o dramaturgo alemão Bertolt Brecht, cujo texto em anexo, “SE OS TUBARÕES FÔSSEM HOMENS”, fala por si próprio.
Exemplos transmitidos pela mídia, como o que escolhemos no jornal O DIA, de 17/11/98, entre mais de 150 outros anúncios semelhantes, deixaria enrubescido qualquer cachorrinho adestrado.

ANÚNCIO DO JORNAL O DIA, DO DIA 17/11/98, PÁG. 10
BABALULOIRINHA TCHA!
102cm quadril redondinho, coxas grossas, oral gostoso, fogosa liberal!!! Apartamento discreto, Centro. Promoção (20,00 e 30,00).
Pode-se ainda questionar se todos esses anúncios provém de pessoas autônomas ou de empregados.
Curiosamente, ainda hoje, 17/11/98, a rádio CBN noticiou que um milionário, no estrangeiro, deixou uma pensão de 70.000 dólares para sua cachorra, e que a esposa está recorrendo na justiça, para adquirir o mesmo direito, sob a alegação de poder provar que era tão querida quanto a cachorra.
Parece caber aqui também considerar que há pessoas que se deixam instruir por circunstâncias, ambições, vícios ou ainda outros motivos, o que parece ser bem distinto do comportamento dos cachorrinhos. O cachorrinho é incapaz de criar para si próprio necessidades supérfluas.
Há uma escala mínima de valores que é reconhecida, quase que universalmente, pela humanidade. Quando a pessoa se deixa ferir pela perda de algum desses valores, normalmente sofre uma profunda depressão. Uma má instrução pode significar a transgressão de um desses valores humanos, mas o que fazer quando a execução dessa determinada instrução também significar a própria sobrevivência? Por exemplo, uma pessoa que não tenha quem lhe dê uma esmola ou um parente que a sustente, e ao mesmo tempo não consiga receber um salário, encontrará fatalmente a morte se não tomar outras providências.
Então a instrução (ou adestramento) faz a pessoa (ou cachorrinho) fazer aquilo que não faria por si só.
O companheiro Alexandre também narrou coisas que ocorreram nessas eleições, como o pagamento de R$ 15,00 a pessoas, com a instrução de que deveriam pedir votos, mas que a partilha da execução desse processo foi para ele constrangedora. Mesmo discordando dessa tática, o companheiro Alexandre declarou ter sido válida para consolidar a vitória.
O constrangimento a que fui submetido nesse encontro do dia 15/11/98, dada a truculência com que o companheiro Alexandre a mim se dirigiu, pode aferir o que ocorreria com qualquer outro cidadão de Mendes que ousasse ser franco e espontâneo na busca de soluções, ou na sua tentativa de participar da gestão do Partido. Não seria esse, então, um dos motivos da ausência em massa das pessoas mais pacatas nesses ambientes?
Cabe então questionar se foi mais intolerável a menção do “Cachorrinho Adestrado” ou a presença de um militante que reflete sobre a qualidade do adestramento a que é submetido.
Um partido deveria ser sustentado essencialmente pelo esforço de seus filiados. O PT de Mendes conta com reuniões únicas em que não consta mais de 16 filiados, e em muitos casos com não mais de 8 filiados. Logo, há uma necessidade premente de ampliação do quadro de filiados. Por isso foi proposto esse ENCONTRO com divulgação pública e convidativa. A sede seria uma forma de viabilizar a interação desses filiados e de dar uma visibilidade ao Partido. Foram impressos cerca de 600 cartazes, sendo alguns deles afixados em diversos locais públicos do bairro Tupinambá e do Centro de Mendes. Esses cartazes foram financiados inteiramente pelo salário de militantes do Partido.
Contrastando com esse minúsculo trabalho de convidar pessoas para conhecer o Partido, contrapõe-se uma campanha milionária, de cuja dinâmica ficamos conhecendo apenas alguns pequenos detalhes, que foram gentilmente divulgados pelo companheiro Alexandre na reunião do dia 15/11/98.
Contrastando mais ainda com essa surpreendente vitória, foi a não menos surpreendente incapacidade desse aparato para atrair simpatizantes para esse ENCONTRO DO PT na cidade de Mendes. Sobretudo quando o companheiro Alexandre narrou o delírio de jovens que festejavam a vitória soltando foguetes.
A presença de simpatizantes no ENCONTRO, entre os milhares de eleitores do Município de Mendes foi praticamente nula. Isso parece paradoxal, quando o PT se fortaleceu em Mendes, com mais de 1.000 votos para os seus candidatos.
Quanto à igreja católica, poder-se-ia até comemorar o 11o aniversário do lançamento da encíclica de João Paulo II, intitulada “CHISTIFIDELES LAICI”, no próximo dia 30 de dezembro. Pois essa encíclica, fartamente citada no Manual da CF-96, insiste na participação dos cristãos na política. Vamos mostrar alguns exemplos:
Manual da CF-96, pág. 21:
Assim, a CF de 1996 tem os seguintes objetivos:
· geral: contribuir para a formação política dos cristãos para que exerçam sua cidadania sendo sujeitos da construção de uma sociedade justa e solidária;

Manual da CF-96, pág. 96:
Foi minha dedicação à Verdade que me levou ao campo político. E posso dizer, sem nenhuma hesitação, que nada entendem de religião os que dizem que religião não tem nada a ver com política81.
Chistifideles laici, pág. 11:
Novas situações, tanto eclesiais como sociais, econômicas, políticas e culturais, reclamam hoje, com uma força toda particular, a ação dos fiéis leigos. Se o desinteresse foi sempre inaceitável, o tempo presente torna-o ainda mais culpável. Não é lícito a ninguém ficar inativo.
Chistifideles laici, pág. 15:
5. Pensemos nas múltiplas violações a que hoje é submetida a pessoa humana. O ser humano, quando não é visto e amado na sua dignidade de imagem viva de Deus (cf. Gn 1,26), fica exposto às mais humilhantes e aberrantes formas de “instrumentalização”, que o tornam miseravelmente escravo do mais forte. E o “mais forte” pode revestir-se dos mais variados nomes: ideologia, poder econômico, sistemas políticos desumanos, tecnocracia científica, invasão dos “mass-media”. Mais uma vez nos encontramos diante de multidões de pessoas, nossos irmãos e irmãs, cujos direitos fundamentais são violados, também em nome de uma excessiva tolerância e até da clara injustiça de certas leis civis: o direito à vida e à integridade, o direito à casa e ao trabalho, o direito à família e à procriação responsável, o direito de participar da vida pública e política, o direito à liberdade de consciência e de profissão de fé religiosa.
Chistifideles laici, pág. 170:
É direito e dever dos pastores propor os princípios morais, também sobre a ordem social, e é dever de todos os cristãos dedicarem-se à defesa dos direitos humanos; a participação ativa nos partidos políticos é, todavia, reservada aos leigos” 215.
Chistifideles laici, pág. 105:
É urgente que todos, hoje, estejam alertados para o fenômeno da concentração do poder, e, em primeiro lugar, do poder tecnológico. Tal concentração tende, com efeito, a manipular não só a essência biológica, mas também os conteúdos da própria consciência dos homens e os seus padrões de vida, agravando, assim, a discriminação e a marginalização de povos inteiros.

Falta considerar agora uma situação em que o Papa João Paulo II recuperasse sua antiga vitalidade e visitasse Mendes para avaliar o efeito dessa sua belíssima encíclica nos cristãos católicos da cidade. Certamente ele começaria a escrever uma nova encíclica, ou várias, cujo conteúdo iria eliminar os obstáculos que os católicos encontraram para a leitura dessa maravilhosa CHISTIFIDELES LAICI, datada de 30 de dezembro de 1988.
Chegamos a pensar que uma delas poderia bem ter o título SOBRE O ADESTRAMENTO HUMANO, sem falar, é claro, de “Cachorrinhos Adestrados”.
Recorrendo-se à analogia do cachorrinho adestrado, pode-se pensar que se uma das normas a que as pessoas são submetidas é não participar de reuniões do PT, para assim ter esperança de sobreviver (ter um emprego ou ganhar algum dinheiro), ou não serem constrangidas por uma minoria, passo a ser solidário a essas pessoas.
Fico diante da impossibilidade de existência de um quadro de filiados alegres e participativos, pois as pessoas que procurei para entrar para o Partido se mostraram indiferentes, ou disseram que o PT de Mendes é um “grupinho fechado”.
Deixo aqui o meu testemunho de luta, e de que não concordo com as táticas e estratégias desse tal grupo, me alinhando ao procedimento dos demais filiados.
Mendes, 19 de novembro de 1998.

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