Mas o que me motivou a escrever essas linhas não foi exatamente o esplendor desta celebração em si, mas o jeito pausado e sereno com que o Hesíodo se expressou. Talvez por causa desse modo suave e convincente de se comunicar, num certo momento, a sua oratória me tocou fundo o coração. Embora não me recorde exatamente de todas as palavras, mas me lembro que ele teve a percepção de um ambiente comum, onde todos sendo igualmente filhos do mesmo Pai, uns passavam fome. Sobretudo me impressionou a consciência do “ambiente comum”, debaixo do mesmo céu e respirando o mesmo ar.
A leitura do dia (Mateus 25, 31-46) embasava o sermão do Hesíodo:
Vinde, benditos de meu Pai..., porque tive fome e me destes de comer, tive sêde...., era pregrino..., estava nu..., estava enfêrmo...,estava na prisão e viestes a mim.
Isso nos leva a duas conclusões imediatas:
1a) Uma interpretação direta do texto nos levaria a doar, imediatamente, tudo o que nos sobra, de modo a alimentar todos os famintos, por exemplo.
2a) Entender que poderíamos atingir a essência do que Cristo disse, imediatamente, contribuindo para uma justa e racional organização desse “ambiente comum”, mencionado pelo Hesíodo.
Se apoiarmos a primeira conclusão, deveremos também levar em conta não somente um fragmento do Evangelho, mas todo o conjunto. Assim iremos entender que toda vez que Cristo se aproximou de um pecador e o perdoou, Ele também o converteu. Ou seja, há direitos e deveres.
Para refletirmos um pouco sobre a inviabilidade de se alimentar a todos de forma indiscriminada, basta pensarmos que o próprio ar, a água e os outros recursos da natureza não são inesgotáveis. Então, isso só será possível com um compromisso por parte dos alimentados.
A Segunda conclusão deveria nos levar a uma participação política, pois é exatamente nesse campo que se pode influir na administração do “ambiente comum”. Essa participação no governo das cidades, conscientizando e trazendo todos de boa vontade a participar, iria selando um compromisso de co-responsabilidade, conseqüentemente suprimindo essa situação de fome e nudez.
Falar simplesmente sobre a fome, sem discutir uma forma digna de erradicá-la, não seria negar o próprio Evangelho?
Maceió, 27/09/2001 – Francisco José Lins Peixoto
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